Maratona de Madrid
Que grande Maratona!!! Esta parecia não ter fim… a mais difícil e mais frustrante até agora. Foi boa para tirar várias lições e para perceber que o gostinho por terminar nem sempre é bom.
Íamos muito bem preparadas, mas não para um percurso com tantas subidas. Primeiro erro: Não ligámos ao percurso e não demos ouvidos a quem disse que esta Maratona era toda a subir. Achámos que era mais uma como as outras todas até aqui, com uma ou outra inclinação que muitos acham “imensas subidas”. Para a minha cabeça funciona bem não saber percursos, mas nesta era fundamental um treino de pernas diferente e uma cabeça mais bem preparada para tal. Aprendi…posso não olhar, mas tenho de pedir a alguém em quem confie muito (o nosso PT Tiago) que olhe e estude o melhor e mais adequado treino para não haver surpresas desagradáveis.
Sofremos praticamente do km 16 até ao fim, se bem que comecei com dores nos gémeos logo no início, na primeira subida da partida. Tive dores até terminar.
Foi desesperante ver subidas e descidas, umas atrás das outras. Deixámo-nos literalmente arrastar a partir de uma certa altura. Acho que não há uma definição melhor para descrever o que foi. Não falámos praticamente nada uma com outra (umas das coisas divertidas que temos e que para muitos é impensável) e ainda bem. Se uma de nós deitasse um vou desistir pela boca, a outra tinha aceite e concordado na hora. Apeteceu chorar (e chorei), apeteceu rir para não chorar, apeteceu rir para ir buscar forças sabe-se lá onde e, apeteceu que acontecesse qualquer coisa trágica para aquilo acabar e ser cancelado. Pior sensação que já tive, mas o mais verdadeira, desejei qualquer coisa má para aquilo acabar.
Depois vieram as cãibras.Tive uma cãibra que me fez correr os últimos kms tipo robot com pernas esticadas, tivemos muita sede (apesar dos muitos abastecimentos) e pela primeira vez não consegui sentir qualquer boost quando chegámos ao km 41 de tão cansadas que estávamos. Foi, aliás aí que nos separámos e tive de começar a andar para as pernas cortarem a meta.
Não cheguei até ao fim para provar alguma coisa a alguém. Nem sequer a mim mesma eu quero ou queria provar nada. Fomos continuando a correr porque sim, porque foi para o que íamos e porque não somos competitivas ao ponto de acabar a corrida quando percebemos que o tempo que tínhamos desejado já não seria possível atingir. Fomos para Madrid para fazer a Maratona e era isso que lá bem no fundo as duas tivemos na cabeça e no coração e foi isso que nos fez não parar.
Também não estou a escrever este post para pensarem “que espectáculo e que fortes que elas foram, mesmo assim chegaram ao fim”…estou a escrever para tentar explicar o mix de sensações e sentimentos que eu e a Ana vivemos estes últimos dois dias com esta Maratona. Quando a bandeirola das 5h passou por nós, foi assim como que um choque e um tiro directo nas nossas pernas. A Ana nessa altura olhou para mim com a cara mais triste que vi nela e que tão cedo não vou esquecer e disse-me:
– Nós não merecemos!!! E não, neste caso também senti que não. Íamos cheias de garra para acabar esta Maratona no nosso melhor tempo. Fizemos tudo o que podíamos para lá chegar, mas não deu.
Acabei com um nó na garganta e desatei a chorar…acabei sem aquela alegria que acabei todas até agora e acabei sem sentir qualquer orgulho por ter conseguido (nem a bandeira de portugal consegui levantar).
Passado um dia e depois de ter reflectido, claro que sinto orgulho de mim e da Ana. Pensando bem, não seriam muitas pessoas capazes de aguentar tantas horas a correr naquelas condições e com aquele misto de tristeza e frustração. À Marta mais uma vez tiro o chapéu…grandes pernas e grande tempo para uma prova como esta. Foste a MAIOR ( e fizeste-me sentir uma pontinha de inveja).
Faltou-nos a claque que mais grita e vibra por nós (se bem que tivemos muita sorte, perceberam logo o meu SOS nos stories e durante todo o percurso estiveram ali ao telefone, sempre ao nosso lado, a dar muita força para chegarmos ao fim). Por outro lado, não faltaram portugueses que corriam a maratona, que passaram e nos deram uma ou outra palavra de incentivo para continuar. Obrigada a TODOS.
Foi uma experiência diferente, foi uma verdadeira prova de superação, mas a verdade é que é também por isso que faço Maratonas e provas que não domino assim tão bem. Se há quem consiga superar coisas piores eu também vou conseguir, é isso que penso e é isso que levo na cabeça e no coração.
#Outdoit
#outdoit bem representado
Quando tudo apontava para as 4:10
Altimetria desta prova (último gráfico). Podem ver a quantidade de subidas e descidas durante 42km
Obrigada Nãofumo.pt e Sportzone por acreditarem que só por tentar já sou a “Maior”.
Agora é tempo de pensar na bicicleta e no Ironman Cascais, mais uma prova que tenho de superar.
♥
Cacomae no Instagram @anadominguezlemos
O maratonista é aquele que mesmo não conseguindo andar mais, dá sempre um passo em frente! E isso nós fizemos!
Corremos tristes, caladas, de cabeça baixa, mas corremos durante horas, cheias de dores e cansaço… e chegámos as duas à meta…. E passado algumas horas já nos estávamos a rir as gargalhadas de todas as nossas historias da maratona!
Agora seguimos em frente!!
NY 2020! para as 3h 59!!
ahahaha só se isso for numa paragem rápida a caminho de uma ilha paradisíaca qualquer …até corremos mais rápido ainda :P
Ana, não a conheço de lado nenhum mas corro há 23 anos. Raras vezes vi um relato tão genuíno. Muitos parabéns por isso. Todas temos desilusões e dias piores mas a Ana não tapa o seu sol com uma peneira (deve ser por isso que tem um ar tão luminoso). Boa recuperação e tudo a correr bem nos próximos desafios.